domingo, 23 de junho de 2013

Antidepressivos e o Transtorno Bipolar: Sem Benefícios, Possíveis Danos

São Francisco, Califórnia – Novas pesquisas sugerem que antidepressivos administrados a pacientes hospitalizados com Transtorno Bipolar podem, na melhor das hipóteses, não fazer efeitos, e na pior das hipóteses, trazer danos a alguns pacientes.
Pesquisadores da Brown University de Providence, Rhode Island, descobriram que não havia diferenças entre os pacientes readmitidos em hospitais que receberam antidepressivos e aqueles que não receberam. Além disso, descobriram que para pacientes com Transtorno Bipolar que tiveram sua ansiedade controlada com um antidepressivo (venlafaxina), ocorria uma taxa 3 vezes maior de readmissões em hospitais.
“O estudo é um olhar naturalístico sobre o uso dos antidepressivos na Depressão Bipolar, e mostrou que no nosso hospital, com nossos exemplos, os antidepressivos realmente não foram úteis”, disse ao Medscape Medical News a pesquisadora Jessica Lynn Warner.
“Nós não vimos nenhum benefício em termos de deixar os pacientes longe dos hospitais com uso de antidepressivos, e esta descoberta é consistente com a literatura”, Jessica adicionou.
Tais descobertas foram apresentadas no Encontro Anual da Associação Americana de Psiquiatria de 2013.
Poucas Opções
De acordo com os pesquisadores, estudos recentes do Programa Sistemático de Aprimoramento de Tratamento para Transtorno Bipolar, indicam que adicionar um antidepressivo a um estabilizador de humor não acrescenta diferenças ou benefícios em relação a usar apenas o estabilizador de humor.
De qualquer forma, os pesquisadores observaram que apesar destes dados, antidepressivos eram frequentemente prescritos nos hospitais para pacientes com Transtorno Bipolar, e houve a hipótese de que o uso contínuo de tais medicamentos “poderiam refletir em vantagens clínicas não observadas nos experimentos da pesquisa”.
Para avaliar este efeito em potencial, os pesquisadores realizaram uma retrospectiva para revisão e utilizaram todas as causas e taxas de readmissão hospitalar como uma medida naturalística de desfechos psiquiátricos no primeiro ano após sair do hospital.
O estudo foi realizado com 377 pacientes com idades entre 18 e 65 anos que sofriam de Transtorno Bipolar, com episódios mais recentes de depressão e que foram dispensados de um único centro hospitalar de 01/01/2008 a 12/07/2011.
Os participantes foram divididos entre aqueles que receberam prescrição de antidepressivos ao serem dispensados (233) e aqueles que não receberam prescrição alguma (144). Desfechos primários indicaram o impacto da exposição aos antidepressivos nas taxas de readmissão e tempo de readmissão no ano após ser dispensado. Análises secundárias examinaram a taxa de impacto de certos antidepressivos na ansiedade.
No total, 211 pacientes (56%) foram readmitidos dentro de um ano após a alta, independente de estarem tomando os antidepressivos ou não.
Além disso, os pesquisadores não encontraram diferenças nas taxas nem no tempo de admissão entre os dois grupos estudados. O tempo de readmissão ficava entre 152 e 205 dias.
O motivo pelo qual clínicos persistem em prescrever antidepressivos para pacientes Bipolares mesmo sabendo que não conferem benefício algum ainda são desconhecidos. No entanto, a Dra. Warner especulou que pode ser pelo fato de existirem pouquíssimos tratamentos para as pessoas que têm a doença.
“Estes pacientes geralmente são graves, e outros medicamentos, como os estabilizadores de humor, não funcionaram bem, então os clínicos estão vendo os antidepressivos como esperança para alguma melhora. Infelizmente, as evidências não mostram isso. Ajudaria muito encontrar algum tratamento que melhorasse estas pessoas”, disse a Dra. Warner.

Escolha de Tratamentos Praticamente Nula

O estudo também revelou que pacientes com transtorno de ansiedade em comorbidade tinham uma taxa de readmissão muito maior e demoravam um tempo muito menor para voltar aos hospitais, independente de estarem tomando antidepressivos.
Após controlar a ansiedade, descobriram que pacientes que tiveram alta enquanto tomavam venlafaxina tiveram uma probabilidade três vezes maior de readmissão do que aqueles que não receberam prescrição ou receberam outros tipos de antidepressivos ao receberem alta.
Os pesquisadores notaram que pesquisas anteriores ligaram o venlafaxina a taxas mais altas de mudanças de comportamento, nos quais os pacientes “mudavam” a depressão para manias.
De acordo com os pesquisadores, a descoberta no atual estudo liga a droga a taxas mais altas de readmissão e “adiciona a evidência de que venlafaxina pode ser uma escolha muito ruim para pacientes com Transtorno Bipolar.”
“Os clínicos precisam ser cuidadosos ao usar antidepressivos em pessoas que tem Depressão Bipolar, ler sobre os possíveis efeitos que podem causar e saber das taxas de eficácia”, disse a Dra. Warner.

Encontro Anual da Associação Americana de Psiquiatria.

Apresentado em 19 de Maio de 2013.



Tradução: G.F.Costa

domingo, 3 de junho de 2012

Prática de Meditação de Atenção Plena leva ao aumento da densidade da substância cinzenta em determinadas regiões cerebrais


As intervenções terapêuticas que incorporam exercícios de meditação estão se tornando cada vez mais populares, mas até agora pouco se sabe sobre os mecanismos neurais associadas com estas intervenções. Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR) (que poderíamos traduzir por Redução do Estresse Baseado em Prática de Meditação de Atenção Plena), um dos programas de treinamento em Atenção Plena mais utilizados, tem sido citado por produzir efeitos positivos no bem-estar psicológico e por aliviar sintomas de várias doenças. Aqui, nós relatamos um estudo controlado longitudinal para investigar modificações (anteriores e posteriores ao programa) na substância cinzenta cerebral, atribuíveis à participação em um programa MBSR.
Ressonância magnética cerebral de 16 participantes saudáveis que nunca praticaram meditação até então, foram obtidas antes e após serem submetidos ao programa de MBSR de duração de 8 semanas. Modificações na concentração de substância cinzenta foram investigadas usando morfometria baseada em voxel, e comparados com um grupo controle de lista de espera de 17 indivíduos. Análises em regiões de interesse confirmou aumento na concentração de substância cinzenta no hipocampo esquerdo. Na análise de cérebro inteiro identificaram-se aumentos no córtex cingulado posterior, na junção temporo-parietal, e no cerebelo no grupo MBSR comparados com os controles. Os resultados sugerem que a participação em um programa de MBSR de 8 semanas está associada a alterações na concentração de substância cinzenta em regiões do cérebro envolvidas na aprendizagem e processos de memória, regulação emocional, processamentos auto-referenciais, e tomada de decisões.



Psychiatry Research: Neuroimaging 191 (2011) 36–43  
Britta K. Hölzela,b,., James Carmodyc, Mark Vangela, Christina Congletona, Sita M. Yerramsettia, Tim Garda,b, Sara W. Lazara 
a Massachusetts General Hospital, Harvard Medical School, Boston, MA, USA 
b Bender Institute of Neuroimaging, Justus Liebig Universität Giessen, Germany 
c University of Massachusetts Medical School, Worcester, MA, USA  

domingo, 29 de abril de 2012

Atividade física diminui a chance de desenvolver Demência de Alzheimer


Uma interessante pesquisa foi conduzida no Rush Alzheimer’s Disease Center na Rush University em Chicago. O Dr Aron Buchman e equipe colocaram dispositivos sensores de movimentos nos pulsos de 716 pessoas idosas e registraram sua atividade física continuamente por períodos que variaram de 24 horas a 10 dias. Em seguida, estes idosos foram monitorados durante um período médio de 3 anos e meio.
Constatou-se que os idosos com baixo nível de atividade física desenvolveram Demência de Alzheimer duas vezes mais frequentemente que aqueles que tinham níveis de atividade física mais alta. Um aspecto interessante da metodologia do estudo foi que eles monitoraram a atividade dos idosos em dispositivos atados aos pulsos. A atividade dos pulsos indica atividade física global, cotidiana, como fazer jardinagem, cozinhar, arrumar a casa, e não apenas atividade física relacionada à academia de ginástica.
Um outro estudo mostrou que a atividade física reduziu a deposição de placas amilóides (a alteração mais notável e característica da Demência de Alzheimer) em cérebros de portadores do gene APOEe4. Está bem estabelecido que os portadores desta variação  genética apresentam risco aumentado para desenvolverem Alzheimer.
Estes estudos referendam uma crescente bibliografia científica que suporta a importância da atividade física para a saúde e o bem estar das pessoas em qualquer faixa etária.
Fontes:

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Excesso de Prescrição de Psicoestimulantes

Algum tempo atrás fiquei estupefato com o seguinte acontecido: um jovem fora ao eu consultório para conferir a prescrição que portava; um ortopedista havia lhe prescrito metilfenidato em um pronto-socorro porque ele estava muto agitado - na verdade ele estava com o braço quebrado e inquieto!!! Esta foi absurda, patética, vergonhosa, mas no cotidiano tem havido um evidente excesso de medicalização não apenas de crianças mas também de adultos. Muito diagnóstico errado pelos médicos, mas também, muita demanda de psicoestimulantes por parte de pessoas que querem ficar mais "ligadas", ou "atentas", ou mais "estudiosas".
Veja o post abaixo, publicado no site da AMMG:


Déficit de atenção é diagnosticado em excesso, diz pesquisa
Profissionais tendem a dar início ao tratamento depois de um diagnóstico
puramente intuitivo, deixando de lado critérios reconhecidos pela medicina.

A explosão no número de vendas de metilfenidato (aumento de 80% entre 2004 e 2008) – indicado para tratar o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – já dava pistas de que o transtorno estava sendo diagnosticado em excesso. Agora, um levantamento realizado na Alemanha e publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology, apresenta dados que confirmam o que se observava na prática clínica. Segundo o estudo, psicoterapeutas e psiquiatras infantis usam intuição e métodos não comprovados cientificamente para chegar ao diagnóstico do TDAH – e não critérios reconhecidos. O resultado é uma leva de crianças sendo tratadas inutilmente.
Déficit de atenção: 8 sinais aos quais os pais devem ficar atentos
De acordo com o estudo, realizado por uma equipe da Universidade de Bochum (no Vale do Ruhr, na Alemanha) e da Universidade de Basel, mais meninos que meninas são mal diagnosticados. Para o levantamento, foram entrevistados 1.000 profissionais, dos quais 473 foram convidados a diagnosticar e recomendar tratamento para um caso, entre quatro disponíveis. Em três dos quatro casos, os sintomas descritos não correspondiam ao transtorno. O gênero da criança foi ainda incluído em oito casos diferentes. Quando foram comparados casos idênticos, mas com crianças de gêneros distintos, o menino tendia a receber o diagnóstico de transtorno – e a menina não.
Diagnóstico — Durante a avaliação do paciente, psicoterapeutas e psiquiatras infantis tendem a usar métodos de diagnóstico não rigorosos, baseando suas decisões em sintomas vinculados a um modelo pré-definido. No caso, o modelo masculino indica sintomas como inquietação motora, falta de concentração e impulsividade. Isso significa que se uma menina tiver esses sintomas, as chances de ela não ser diagnosticada com TDAH são muito maiores do que as de um garoto. A pesquisa descobriu ainda que o gênero do especialista também é relevante: os profissionais homens dão com mais frequência diagnóstico positivo para o transtorno.
Entre 1989 e 2001, o número de casos positivos nas clínicas alemãs aumentou em 381%. Os custos da medicação para TDAH cresceram nove vezes entre 1993 e 2003 no país. A empresa de convênios médicos alemã Techniker, por exemplo, relata um aumento de 30% nas prescrições de metilfenidato para clientes entre seis e 18 anos.
Considerando essas estatísticas, há uma importante falta de pesquisa sobre o diagnóstico do TDAH. "Apesar do forte interesse público, poucos estudos empíricos tratam desse assunto", diz Silvia Schneider e Katrin Bruchmüller, responsáveis pelo estudo. Enquanto nas décadas de 1970 e 1980 uma "certa ascensão" de estudos sobre a frequência e as razões para os diagnósticos errados foi verificada, as pesquisas atuais dificilmente examinam esse fenômeno.

Artigos relacionados:
• Is ADHD diagnosed in accord with diagnostic criteria? Overdiagnosis and influence of client gender on diagnosis.
J Consult Clin Psychol. 2012 Feb;80(1):128-38. Epub 2011 Dec 26

• The predictive value of DSM-IV criteria in the diagnosis of attention deficit hyperactivity disorder and its cultural differences.
Rev Neurol.2007 Mar 2;44 Suppl 2:S19-22.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Estudo fornece pistas para criação de novos medicamentos contra dependência química

Neurocientistas estão próximos do desenvolvimento de um novo medicamento potencialmente eficaz contra as dependências químicas a partir de recentes estudo sobre o as propriedades do receptor  opióide kappa  (KOR), um membro da família dos receptores de opióides cuja ativação neutraliza os efeitos de recompensa de drogas viciantes. 
Porque o KOR não está associado com o desenvolvimento de dependência física ou o potencial de abuso de drogas opióides como a heroína e morfina, medicamentos que atuam no KOR poderia ter um potencial terapêutico amplo. 
O principal  composto  terapêutico em pesquisa é o JDTic. Os trabalhos mostraram redução do comportamento de recaída em dependência à cocaína em modelos animais. Esta substância já se encontra em fazse de ensaios clínicos para se avaliar a sua segurança e tolerabilidade em seres humanos.
Recentemente, os investigadores do Scripps Research Institute em La Jolla, Califórnia, produziram uma imagem de alta resolução tridimensional d0 JDTic ligado ao receptor KOR humano. A imagem revela novas informações críticas que ajudam a explicar porque JDTic se liga tão forte e especificamente a este específico  receptor  opióide. Estas descobertas foram publicadas online em 21 de março na revista Nature.

http://alert.psychiatricnews.org/2012/03/study-provides-clues-for-designing-new.html

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Depressão: Gastar mais no Tratamento Implica em Melhor Resultado?

Não foi o que mostrou artigo recentemente publicado no Archives of General  Psychiatry. Um estudo que durou 10 anos e que acompanhou pacientes na faixa etária entre 18 e 64 anos com diagnóstico de depressão mostrou que houve substancial aumento do custo do tratamento ao longo deste período, principalmente devido à associação de antipsicóticos atípicos ao tratamento, com mínimo aumento mensurável da qualidade do resultado do tratamento. O estudo mostrou ainda que houve diminuição dos custos com internação e psicoterapia.

Arch Gen Psychiatry. 2011;68(12):1218-1226. doi:10.1001/archgenpsychiatry.2011.146


Catherine A. Fullerton, MD, MPH; Alisa B. Busch, MD, MS; Sharon-Lise T. Normand, PhD; Thomas G. McGuire, PhD; Arnold M. Epstein, MD

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Autismo: As causas são Genéticas ou Ambientais?

Um interessante estudo feito na Califórnia publicado em julho deste ano traz novas luzes sobre este tema. Foram estudados 192 pares de gêmeos, parte deles idênticos, parte deles diferentes, sendo que um dos gêmeos sempre era portador de autismo. O tratamento estatístico dos dados obtidos mostrou que a genética contribui para 38% para o desenvolvimento da doença, enquanto o ambiente contribui com 58% para isto. Até então a maioria das pesquisas considerava que a contribuição genética era muito mais importante, mas detalhes metodológicos (participação de diversidade étnica e socioeconômica) dão bastante peso aos resultados deste estudo.
Futuros estudos poderão elucidar quais são estes fatores ambientais (alguns já vagamente apontados como baixo peso ao nascer, idade do pai, virose materna durante a gravidez, uso de alguns medicamentos durante a gestação), de modo que se possa interferir neles e evitar o desenvolvimento de muitos casos desta grave doença.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Indicadores de Doença Psiquiátrica Encontrados no Cérebro em Desenvolvimento


A maioria dos genes associados com doença psiquiátrica, inclusive aqueles sabidamente ligados à esquizofrenia e autismo são expressos antes mesmo do nascimento. Estes são os achados de um novo estudo conduzido na Universidade de Yale que foi publicado em outubro na NATURE. Uma equipe internacional de pesquisadores identificou quando e onde no cérebro são expressos em mais de  1000 amostras tecidos de cérebros de 57 pessoas cuja idade variava de 40 dias após a concepção até os 82 anos de idade.  Este maravilhoso estudo traz luzes sobre o quanto do cérebro é moldado ainda no útero materno.
fonte: http://alert.psychiatricnews.org/2011/11/indicators-of-mental-illness-found-in.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PsychiatricNewsAlert+%28Psychiatric+News+Alert%29

uma explicação: expressar um gen significa fazer com que a informação codificada nele aconteça, se manifeste. Por exemplo, uma pessoa tem gens para desenvolver câncer de pulmão, os cancerígenos do tabaco ativarão estes genes e farão com que eles se expressem, ou seja, a doença se manifeste.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Óleo de Peixe pode prevenir Demência?

Pesquisadores da Universidade de Northumbria, em Newcastle, Inglaterra, descobriram que o consumo regular de um suplemento de óleo de peixe contendo o omega-3 pode prevenir o declínio cognitivo e demência. No estudo, que é destaque na edição online do British Journal of Nutrition, os pesquisadores monitoraram o funcionamento mental de um grupo de indivíduos entre 18 e 35 anos que tomaram o suplemento durante três meses. Observou-se aumento do fluxo sanguíneo para o cérebro durante a execução de tarefas mentais dos participantes. Os pesquisadores agora planejam avaliar o impacto dos suplementos rico em DHA sobre a memória e desempenho mental dos indivíduos com idades entre 50 e 70.Mais informações na Fonte: http://alert.psychiatricnews.org/2011/10/daily-dose-of-fish-oil-may-help-stave.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PsychiatricNewsAlert+%28Psychiatric+News+Alert%29