segunda-feira, 9 de abril de 2012

Excesso de Prescrição de Psicoestimulantes

Algum tempo atrás fiquei estupefato com o seguinte acontecido: um jovem fora ao eu consultório para conferir a prescrição que portava; um ortopedista havia lhe prescrito metilfenidato em um pronto-socorro porque ele estava muto agitado - na verdade ele estava com o braço quebrado e inquieto!!! Esta foi absurda, patética, vergonhosa, mas no cotidiano tem havido um evidente excesso de medicalização não apenas de crianças mas também de adultos. Muito diagnóstico errado pelos médicos, mas também, muita demanda de psicoestimulantes por parte de pessoas que querem ficar mais "ligadas", ou "atentas", ou mais "estudiosas".
Veja o post abaixo, publicado no site da AMMG:


Déficit de atenção é diagnosticado em excesso, diz pesquisa
Profissionais tendem a dar início ao tratamento depois de um diagnóstico
puramente intuitivo, deixando de lado critérios reconhecidos pela medicina.

A explosão no número de vendas de metilfenidato (aumento de 80% entre 2004 e 2008) – indicado para tratar o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) – já dava pistas de que o transtorno estava sendo diagnosticado em excesso. Agora, um levantamento realizado na Alemanha e publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology, apresenta dados que confirmam o que se observava na prática clínica. Segundo o estudo, psicoterapeutas e psiquiatras infantis usam intuição e métodos não comprovados cientificamente para chegar ao diagnóstico do TDAH – e não critérios reconhecidos. O resultado é uma leva de crianças sendo tratadas inutilmente.
Déficit de atenção: 8 sinais aos quais os pais devem ficar atentos
De acordo com o estudo, realizado por uma equipe da Universidade de Bochum (no Vale do Ruhr, na Alemanha) e da Universidade de Basel, mais meninos que meninas são mal diagnosticados. Para o levantamento, foram entrevistados 1.000 profissionais, dos quais 473 foram convidados a diagnosticar e recomendar tratamento para um caso, entre quatro disponíveis. Em três dos quatro casos, os sintomas descritos não correspondiam ao transtorno. O gênero da criança foi ainda incluído em oito casos diferentes. Quando foram comparados casos idênticos, mas com crianças de gêneros distintos, o menino tendia a receber o diagnóstico de transtorno – e a menina não.
Diagnóstico — Durante a avaliação do paciente, psicoterapeutas e psiquiatras infantis tendem a usar métodos de diagnóstico não rigorosos, baseando suas decisões em sintomas vinculados a um modelo pré-definido. No caso, o modelo masculino indica sintomas como inquietação motora, falta de concentração e impulsividade. Isso significa que se uma menina tiver esses sintomas, as chances de ela não ser diagnosticada com TDAH são muito maiores do que as de um garoto. A pesquisa descobriu ainda que o gênero do especialista também é relevante: os profissionais homens dão com mais frequência diagnóstico positivo para o transtorno.
Entre 1989 e 2001, o número de casos positivos nas clínicas alemãs aumentou em 381%. Os custos da medicação para TDAH cresceram nove vezes entre 1993 e 2003 no país. A empresa de convênios médicos alemã Techniker, por exemplo, relata um aumento de 30% nas prescrições de metilfenidato para clientes entre seis e 18 anos.
Considerando essas estatísticas, há uma importante falta de pesquisa sobre o diagnóstico do TDAH. "Apesar do forte interesse público, poucos estudos empíricos tratam desse assunto", diz Silvia Schneider e Katrin Bruchmüller, responsáveis pelo estudo. Enquanto nas décadas de 1970 e 1980 uma "certa ascensão" de estudos sobre a frequência e as razões para os diagnósticos errados foi verificada, as pesquisas atuais dificilmente examinam esse fenômeno.

Artigos relacionados:
• Is ADHD diagnosed in accord with diagnostic criteria? Overdiagnosis and influence of client gender on diagnosis.
J Consult Clin Psychol. 2012 Feb;80(1):128-38. Epub 2011 Dec 26

• The predictive value of DSM-IV criteria in the diagnosis of attention deficit hyperactivity disorder and its cultural differences.
Rev Neurol.2007 Mar 2;44 Suppl 2:S19-22.